Monday, December 18, 2006

Epifanias luminosas nos Paises Baixos








Em Eindhoven, pérolas de arte pública, com Luz. Com curadoria de Bettina Pelz e Tom Groll, meios relativamente simples e uma estratégia de intervenção urbana clara e suportada pela Autarquia local, o Festival Glow é uma surpreendente demonstração das possibilidades de uma estética emergente que tem estado arredada dos centros emissores dos cânones de arte contemporânea. Arte e comunicação, a sombra tensa [Perniola] mas não perversamente usada para simular o preenchimento do vazio, uma delicada presentificação da penumbra de vários espaços da cidade holandesa. Num aglomerado de 250 000 habitantes, sem contar com os arredores, esta operação vem de resto constituir-se sobretudo como mais um factor de design urbano e cultura cosmopolita, transversal e acessível, em que os poderes locais apostam declaradamente. Sem dúvidas existenciais. Foi em Setembro, durante dez dias. E foi um passo-teste – dizem-me – que terá em 2008 uma expressão sustentada, ainda mais forte e internacional. De cima para baixo: Intervenções de Peter Brdenk; Francesco Mariotti; Stefan Hoffmann; Tae-Gon-Kim; Veronika Valk; Giessler & Sandmann; Bettina Pelz e Tom Groll. Fotos de Claus Langer. Mais em www.gloweindhoven.nl

Sunday, December 17, 2006

O rapaz dos cabelos verdes


Joseph Losey. Dean Stockwell. Curiosidade pelo título. JER falara n'um filme encantador'. definição perfeita para um clássico de Ficção – ou Fantástico – mas sobretudo de Ética Aplicada. É estranho que tantas obras maravilhosas de BOM-SENSO, como esta, se limitem a comover um tipo que arranja um pedaço para redescobrir os prazeres do VHS, revelando-se incapazes de tocar um público mais alargado, e de porventura operar ao menos pequenas revoluções de bairro. Mas tenho uma coisa para contar – vi o filme com as duas filhas, de 3 e 6 anos de idade – numa tarde de sol que teimava em passar pelos cortinados, e só posso dizer que a atenção de ambas foi permanente e que só posso acreditar que metáfora tão simples como a do cabelo verde funcionou na perfeição para a reflexão pretendida sobre a intransigência, a intolerância, a estupidez, a guerra e acima de tudo a incapacidade dos adultos verem realidades profundas, escondidas sob o manto desmaterializador do quotidiano social. Aconselhado para inteligências em estado de alerta, em qualquer idade.

Friday, December 8, 2006

Sublime Beethoven na Gulbenkian...

Deslocámo-nos quarta passada, pelas 19h00 e em grupo, à Gulbenkian, logo após a experiência de ver pela primeira vez o domingueiro 'Por quem os sinos dobram' na Cinemateca, sessão da tarde repleta de resistentes. A Bergman de sweater verde imaculado, brancos dentes e perfeitos, em contraste com a justeza de Cooper - blusão eternamente de aviador -, as faces mascarradas dos guerrilheiros republicanos, a Guerra Civil de Espanha tornada pano de fundo de uma 'mera' história de amor. Estilização hollywoodesca e convenções romanescas à parte, quase choramos - agora exagero - no momento em que o herói argumenta, sem hipóteses de reacção, que Maria tem de ir porque leva consigo... ambos. Quinze minutos de conversa com o Warrior Nelson permitiram-me perceber como é bom ter amigos intelectuais que connosco descodificam os clássicos, esses mesmos que parece existirem PARA SEREM INTERPRETADOS.
Adiante: seguia-se uma sessão sempre imprevisível: clássica na Gulbenkian. Frio. Quente? Sem António Counter, que se cortou - deveria chamar-se antes 'Cortador'? - mas ainda com Warrior, Gorettski, Abrheu, Rod, Rita Maid, Sarmentium, mais trinta estudantes universitários que jamais tinham entrado numa sala solene como a do Grande Auditório. Helène Grimaud, Coro e Orquestra Gulbenkian, cento e cinquenta músicos em palco, dedicaram-se à rigorosa transposição do génio de Beethoven para uma actualidade em suspensão - apesar da charmosa distância da upperclass em final de tarde cultural. A hipótese: e se três peças do compositor alemão fossem o passaporte para a inelutável - nunca sei o que significa esta palavra, mas soa tão bem - presentificação do sublime numa demonstração brutal de que a beleza não apenas existe como se nos irrompe coração adentro a um momento de disponibilidade, tal como o beijo da Primavera quando menos esperamos? Sei que vários alunos choraram, eu próprio tive eloquentes visões que resguardarei. A música terá transportado tão alto uma presença colectiva que sentíamos, muitos de nós, coisas extremamente pessoais. Quanto a mim, fui sensível à confirmação do lugar primordial daqueles sons numa genealogia que pessoalmente reconhecerei até em Lennon/McCartney e nos mais requintados progressivos.
A soirée memorável ainda incluiria o Stravinski da Perséphone de Gide, Grimaud na voz - literalmente - e no corpo, bamboleando-se, nada neo-clássica - mas esta segunda parte não superaria a primeira. Nas margens do programa, mais rabiscos guerreiros, notas no rodapé do efémero que cada concerto - sobretudo como este - definitivamente consagra. There is no such moment as NOW.

Monday, December 4, 2006

Jamaica In



É um artista desconcertante. Calado. Mudo. Rarefeito. Geométrico. Incontinente. Trabalha nos limites da ingenuidade pró-alternativa. Expôs na Luzboa, na Santiago Alquimista, e a peça foi 'nacionalizada' pela gerência. Não querem que saia de lá.
A Hipótese: e se o Bruno Jamaica for um diamante escondido com elásticos de fora? Aposto que, se não for completamete explorado pelo sistema das Galerias, estamos perante um sensível em avançado estado de maturação. Mais info no blogue do menino e colegas da ESAD.CR. Se bem que não me lembro do nome do dito… [ah...! agora já me lembrei: warnungproject.blogspot.com].